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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Há Um Ano, O Regresso.

Infelizmente muitos brasileiros desconhecem o significado de possuir uma boa qualidade de vida, de poder sair com seus pertences de um lado para o outro sem serem abordados por meliantes armados ou não para os levarem, desconhecem em muito algum lugar que não tenha carros com insulfilme e blindados e onde podem conduzir seu veículo com a janela aberta e parar sem qualquer risco em semáforos, e há um ano deixei de lado tudo isso devido a uma enorme crise que muitos brasileiros desconhecem que fez da vida de muitos um inferno, e infelizmente eu passei por ela e por isso regressei.
Há um ano estava eu e a minha família no Aeroporto Francisco Sá Carneiro com praticamente onze malas nas costas em busca de um recomeço, porque já faziam dois anos que encontrava-me desempregado, raramente participava de alguma entrevista e quando participava não era aprovado até porque a prioridade era para os cidadãos locais e não aos estrangeiros, e entendo muito bem isso porque um cidadão estrangeiro apesar de pagar os mesmos impostos não deixará de ser um cidadão estrangeiro e consequentemente o patriotismo pesa no momento de contratar alguém, então após um ano a pensar e dois anos desempregado o regresso bateu a porta e optamos por deixar para trás uma sobrevida e vida muito intensa após seis anos.
O regresso contou com a enorme ajuda de algumas pessoas, a começar pelo amigo-padrinho G.H.T., porque se não fosse por ele não teríamos meios de comprar a passagem de volta, e quando voltamos não tínhamos uma residência teoricamente própria e foi aí que entrou a ajuda dos "Cunhas" que cederam-nos um espaço em vossa casa durante o tempo que fosse necessário, então o nosso regresso contou com o apoio fundamental de algumas pessoas.
Durante um período, mais de um ano, o pensamento ficava cada vez mais forte em relação ao regresso a "Terra Brasilis", até porque as notícias que chegavam em Portugal diziam que o Brasil estava muito bom em todos os conceitos e aspectos, mas o problema é que a mídia era e é manipulada pelo Governo atual a seu favor para venderem uma imagem inexistente de um país muito desigual, e consequentemente muitos brasileiros que estão fora do país desconhecem por completo a verdadeira realidade brasileira, então quando optamos por voltar achávamos que encontraríamos um país bem melhor de quando fomos embora, mas decepção foi enorme, então o regresso a casa foi decepcionante em diversos aspectos, não foi pior pelo fato de mal chegarmos e já conseguirmos trabalho, sendo que eu em apenas um ano de regresso a casa encontro-me no terceiro trabalho, algo que em dois anos sequer ocorreu enquanto estava em Portugal.
O regresso foi marcado por um ato desesperador quando estávamos em Portugal, ainda no Aeroporto, quando no ato do check in foi-nos informado que tínhamos de validar a compra da passagem com os dados do comprador, cópia enviada por e-mail do cartão utilizado e dos documentos pessoais, e para ajudar começaram a solicitar algum documento brasileiro do Nando Quack Hiper Mega Tontosão sendo que ele sequer havia saído de país, então a correria ao regresso foi absurda, tendo eu que ligar ao amigo-padrinho às cinco da manhã, horário do Brasil, para acordá-lo e consequentemente enviar a documentação necessária, e após muito sufoco embarcamos em regresso ao Brasil.
Há um ano voltamos, no início foi algo difícil para adaptarmos às tantas mudanças em poucos anos, pessoas mais egoístas e individualistas, um Governo ainda mais ineficaz e ditatorial, algo fora do normal que não imaginava encontrar, e a adaptação foi difícil porque faltava e ainda falta, a qualidade de vida tão intensa a que tive acesso e que muitos desconhecem, e por desconhecerem mal sabem o quanto o Brasil está mau.
Recordo-me de cada momento do regresso a minha terra, não tenho como confirmar se possuo ou não vontade em retornar a "Terra de Camões" porque por lá o Governo teima em afundar ainda mais na lama o país, então se lá há qualidade de vida não há emprego, ao contrário daqui, que há emprego mas falta qualidade de vida.
Há um ano desembarcava no Aeroporto Internacional de Guarulhos, com a minha Mãe e o meu grande amigo-padrinho estavam a nossa espera, não precisávamos de muito porque são pessoas muito importantes na minha vida, mais adiante encontraríamos os "Cunhas" que também são importantes em nossas vidas pela ajuda impecável que nos forneceram, e assim chegamos a Sampa após dez horas de voo em um céu azul e brilhante.
Há um ano regressava, deixava para trás um sexto da minha vida vivida e sobrevivida em terras lusitanas, e ainda sinto algo no peito sobre tudo que passei por lá, mas um novo regresso em um curto espaço de tempo está descartado porque a adaptação as mudanças drásticas que houve no Brasil já ocorreu, e levar nas costas onze malas novamente é muito cansativo e estressante, mesmo por saber que a qualidade de vida que tanto valorizei está milhares de quilômetros de distância mas que sem trabalho torna-se difícil viver e sobreviver ficará cada vez mais complicado.


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